Lá fora, o mundo tinha hoje uma luz antiga. O verde escuro das árvores altas ao vento era uma cena de filme esquecido. Isto acontece às vezes, porque se acumulam ruínas que têm saudades e isso não pode ser. Em dias assim, no lugar de se sair pela porta da frente, deve visitar-se sem pressa o fundo de um quintal (todos os quintais são ilhas de um mundo velho, à superfície do resto). Ah, e lá, despir-se o corpo crescido e dobrá-lo com ternura ao pé de uma árvore. Olhando para cima, os ramos voltarão a estar lá todos. Todos. Será então possível sorrir pela tarde fora.
(Enviado para o Concurso de Microcontos Mário-Henrique Leiria, sob o pseudónimo Carlos Malha.)